ou quase despercebida a notícia da morte de uma professora dentro de uma escola lá no Paraná. Calma, ela não foi morta por um aluno, pois aí sim seria motivo de manchetes nos jornais e na TV. Mas ela morreu atendendo exigências do sistema, e o sistema com certeza não irá produzir provas contra si, exercendo então o seu sagrado direito de permanecer calado.
Ah, para com isso Zé…você vem aqui acusar o sistema baseado em quê?
Tá, me desculpem então, foi mal aí ô sistema. Imaginei isso lembrando o pavor que me acometia quando minha querida professora de português, dona Edna, me dizia: “José, vou ter que te levar lá na sala da diretora“.
Imagino então o pavor de dona Silvaneide ao ser avisada que deveria ir lá na sala da diretora se reunir com gestores da Secretaria de Educação.
Ai meu Deus, será que o pai de algum alecrim dourado fez alguma reclamação de mim? Não, deve ser alguma nota que esqueci de lançar no diário. Ou será que não fiz o planejamento das aulas de reforço escolar? Ah, meu Deus, deve ser então por causa do Ideb. Será que é sobre as notas de redação na plataforma? Ou será o atestado médico da semana ada, justificando minha ida ao cardiologista? Pronto, vou perder meu bônus esse ano.
Claro que estou falando de coisas que não acontecem por aqui. Só lá no Paraná, onde trabalhava dona Silvaneide. O fato é que esse papo de apoio psicológico em nosso sistema de Educação só se manifesta depois que acontece uma tragédia dessas.
A escola onde ela trabalhava deve estar agora cheia de psicólogos e tecnocratas tentando apagar os rastros de coação, abusos funcionais, interferência política e até mesmo assédio moral sobre os profissionais de educação.
Dona Silvaneide, com certeza, não vai mais ter que se preocupar com aquelas dúvidas que a atormentavam tanto no curto percurso entre sua sala de aula e a sala de reuniões da diretoria.
