Onde vivi minha infância, um lugar bem pobre, as casas não tinham muros, pois era caro ter um muro e no máximo havia uma cerquinha. Não havia policiamento nas ruas, pois o destacamento de Cachoeiro era muito pequeno. A viatura era um “Vasquinho” em homenagem às cores de meu time.
Com o tempo, a violência e a insegurança aumentaram e as pessoas aram a fazer muros com cacos de vidro em cima. A violência era a desculpa e o poder público que deveria cuidar disso foi se acomodando com o jeitinho que as pessoas encontraram para resolver o problema.
Então amos a colocar grades nos muros, portas e janelas, mas os problemas de insegurança continuavam. E o mesmo poder publico feliz com nossa astúcia em resolver problemas que deveriam ser resolvidos por ele. Vieram então as câmeras de segurança, portões eletrônicos e a era da tecnologia foi aplaudida de pé pelas autoridades, que mais uma vez viam seus problemas e promessas de campanha serem resolvidos pela febre tecnológica.
Em alguns lugares mais nobres hoje temos seguranças particulares, mas nos outros mais pobres, onde novamente o poder publico falhou, entraram as milícias. Pronto, agora resolvemos os problemas e o poder público (desculpem ser repetitivo) finge que não vê agentes de segurança fazendo bicos na proteção das pessoas, no que deveria ser atribuição do Estado.
Agora temos a febre das armas, que segundo muita gente, vai ser a salvação da humanidade e muitos representantes do poder público já estão incentivando a ideia. E eu aqui imaginando uma arma em casa pra proteger a familia, o quê a principio parece muito justo, mas que deveria ser feito por aqueles que são preparados e pagos com nossos impostos para isso.
Só que as ruas continuam inseguras. Será que precisaremos ter uma arma em casa, outra no porta luvas ou, como alguns pensam, na cintura? Será, talvez, que nossos filhos terão de levar alguma arma para a escola, pois lá também temos o risco de violência.
O que faz o poder público, a justiça e outras ferramentas que estão na Constituição Federal? Nada, pois se acostumou a não fazer nada do que é pago com nossos impostos para fazer, ou seja, garantir a segurança, o direito de ir e vir, a justiça e a cidadania.
Vamos continuar à mercê da violência em uma escala maior ou teremos que competir uns com os outros como fazemos com carros e celulares, porém com armas melhores e mais potentes, carros blindados, até nos igualarmos aos criminosos de que tanto falamos mal?
