Eu o conheci ainda muito criança. Ele iria me pegar se eu não parasse de fazer birra ou brigar com minha irmã. Disse que o conheci, mas, na verdade, nunca o vi, pois ele estava só no meu imaginário e das outras pessoas.
Um pouco maior, tornei a encontrá-lo em um livro do Monteiro Lobato com o nome e a aparência da Cuca. Acho que foi a última vez que o vi, na infância.
Fui revê-lo novamente na faculdade, dessa vez com o nome de TCC. Mas, desde cedo, aprendi que poucas coisas são definitivas nesse mundo maluco.
Então, há uns dois meses, me apareceu de novo. Era um tal de Donald. Acho que nem minha neta, que tem muita imaginação, acreditaria. Era gringo, sempre ardiloso, e surgiu nas redes de TV com um imenso topete amarelo, acompanhado de outros dois parecidos com ele, todos falando inglês e tocando terror por todo o mundo.
Foi um corre-corre geral, as bolsas dispararam, os mercados enlouqueceram, os governos se movimentaram com suas embaixadas em atividade intensa, mas o tal do bicho não parava.
Ameaçou acabar com uma guerra em um lugar, começar outras em outro, expulsou imigrantes, falou em anexar mais terras para seu imaginário reinado e, aí sim, voltou o meu medo de infância, pois o bicho ameaçou também governar o mundo. Se não o obedecessem, seríamos todos castigados.
Senti falta de minha mãe me dizendo que isso era mentira e que se o bicho papão aparecesse lá em casa ela lhe daria umas boas palmadas.
Confesso que seria engraçado aquela senhorinha frágil, colocar aquele sujeito mal educado no colo e lhe aplicar umas chineladas naquele trazeiro imenso.
Se cuida Trump papão.
