Minha rua tem crianças que não param de brincar, na pracinha onde brincam o mundo parece estar. É com essa paródia de um verso muito conhecido em meus tempos de escola, que vou contar um pouco do universo maravilhoso do pensamento, que vejo acontecer diariamente na pracinha de meu bairro.
É comum hoje dizermos que as crianças não brincam por causa dos celulares. Sou levado a acreditar, mas sem generalizar, pois se tem uma coisa que não observamos, na maioria das vezes, é a forma com que elas brincam.
Aqui onde moro elas brincam de pega pega, pique alto, estátua, amarelinha, pipa, garrafão, futebol, queimada, vôlei, bicicleta, escalada, adoletá, escultura em barro quando chove e mais um monte de outras brincadeiras que nem sei o nome.
Aqui eles dançam quadrilha e fazem inhos de dança que aprendem na escola, inventam brincadeiras quando se acaba o estoque. A Tainá, a Lívia, a Penélope, o Caio, o Théo e muitos outros, e se os pais deixarem dormem na pracinha. Parece um grude.
Acho que vou aproveitar a nova istração e pedir uma pintura e uma camada de saibro novo aqui nesse lugar, que com certeza é encantado, povoado de seres invisíveis mas presentes, que se perpetuam em cada criança que brincou e hoje vê seus filhos e netos brincando por aqui.
Quem lê meus escritos deve estar pensando onde quero chegar com essa conversa meio sem pé e sem cabeça, já que o dia das crianças ainda está longe. Mas vou explicar: Escrevi na última crônica sobre as bonecas reborn, sobre a forma com que adultos estão usando esses brinquedos.
Estive pensando, estudando sobre isso e observando os comentários, e o que descobri me deixou assustado.
Parece que pessoas adultas mal intencionadas estão no universo escuro das redes sociais, criando uma ameaça real para nossas crianças, usando inteligência artificial para criar pornografia infantil a partir desses ou dessas bonecas de silicone, conhecidas como reborn, sexualizando o que era pra ser um brinquedo, e mentes distorcidas usando o direito da liberdade de expressão já estão usando as redes sociais com essa finalidade.
Por isso volto às brincadeiras da pracinha de meu bairro, lembrando que existem dezenas delas espalhadas por nossa cidade e talvez esteja faltando é um pouco de tempo aos pais, mães e avós para nossas crianças. Se mudarmos isso, quem sabe a pracinha Dois Amigos daqui a algum tempo e a ser conhecida como Pracinha Milhões de Amigos.
Se não encontrarmos esse tempo, por causa de tanto trabalhar para criá- los e educá-los, quando tivermos esse tempo talvez já não haja mais tempo.
