Crônica • Cavalo de Aluguel

No saudoso carnaval em Marataízes, junto com primos e amigos, fizemos um churrasco no terreno da família Sabra, como preparativo para as Unidas do Aquidabã. Bloco tradicional, onde homens saíam travestidos de mulher.

Marcelo Sad Malandro e Monteirinho, primos queridos, vieram do RJ para brincar no bloco. Lá pelas 16h00 já estavam travestidas e paramentadas a carácter. Dois homens montados em seus cavalos que alugavam, aram em frente ao nosso churrasco. Eu e o primo João Vicente gritamos: – Ei, pera aí um pouquinho. Atenderam ao chamado, desceram dos animais.

Um cavalo sedento me olhou suplicante. Abri uma gelada e despejei goela abaixo. Balançou a cabeça e sorriu agradecido. Segurei as rédeas com a mão esquerda, botei o pé no estribo e subi. Quando cutuquei a sua barriga para dar uma volta, ele não obedeceu e deu uns pinotes. Escutei alguns torcedores gritando: – Vai cair! Desci, ajeitei a sela, apertei as barrigueiras, ele me cheirando e olhando de lado. Sentiu o odor do homem do campo e pensou: – É melhor ear com ele.

Seguimos alcoolizados pela orla. O bicho via um boteco de longe e empacava. Fomos até à casa dos meus tios Odair e Aline. Fantasiados, a caminho do Iate Clube Marataízes, o primo César e sua namorada Cristiane. Também estava com eles, fantasiado com plumas e paetês, o querido e competente coreógrafo e bailarino Jeremias Schaydegger.

Coloquei ele na garupa suada do cavalo e seguimos na marcha carnavalesca. Reclamava que suas partes baixas estavam doendo e o teimoso cavalo sedento parava em todos botecos. – Estou ardendo Marcelo, não aguento mais. – Calma Jerê, só mais um boteco. O coitado do animal está com sede!

Desci Jeremias que foi embora e não consigo lembrar como voltamos. Uns seis meses depois, perto do edifício Primus, em Cachoeiro, escuto uma voz do outro lado da rua. Jeremias botou a mão na cintura, rodou a baiana e gritou para o Sul do Estado ouvir: – É Marcelo, você me deixou todo assado naquele dia! Olhei para os lados, para trás, e não consegui ver nenhum Marcelo. Dei meia volta procurando e nunca o encontrei. Dei como desaparecido.