Há três anos, o Instituto Cultural Irmã Vicência (ICIV), a partir de decisão da nova diretoria, sob a presidência de Luciano Travaglia, iniciou uma importante jornada: ouvir com atenção moradores e visitantes durante a Festa de Corpus Christi através de uma pesquisa de satisfação.
Desde então o levantamento é realizado anualmente e o resultado apontou vários aspectos a serem aprimorados, como também norteou ações concretas que resgataram o verdadeiro espírito do evento — tanto em sua dimensão evangelizadora quanto em suas expressões culturais, sensoriais e olfativas.
Segundo o presidente do ICIV, a pesquisa trouxe à tona questões fundamentais. Um dos primeiros apontamentos foi a ausência de orientação sobre o início da visitação aos tapetes, especialmente por conta das duas entradas da cidade. A solução foi imediata: a instalação de um portal de boas-vindas, indicando claramente o ponto de partida da experiência.
“Durante 59 anos realizamos a festa sem esse tipo de direcionamento. Os dados coletados expam essa lacuna e, com a simples instalação do portal, conseguimos melhorar significativamente a recepção dos visitantes”, relata Travaglia.
Mais que beleza: sentido e evangelização
Outra informação bastante relevante foi que 37% dos entrevistados não compreendiam o significado das imagens retratadas nos tapetes. A constatação foi decisiva: o propósito catequético da festa estava se perdendo em meio à contemplação artística e problemas sociais nacionais.
Para reverter esse cenário, totens informativos foram colocados ao lado de cada quadro, com a reprodução da imagem e uma explicação do seu conteúdo. Além disso, foram inseridos QR Codes com informações sobre cada quadro, com a programação e bastidores da confecção dos tapetes. Para quem prefere o impresso, 10 mil cartilhas foram distribuídas.
“O visitante ou a entender o que estava diante dos olhos. A festa voltou a comunicar a fé, como sempre foi seu objetivo principal. Na pesquisa seguinte, 92% de pessoas afirmaram que compreendiam as mensagens”, comemora Luciano Travaglia.
Memória olfativa, elo com o ado
Talvez um dos apontamentos mais sensíveis e comoventes da pesquisa tenha sido o relato de que faltava algo essencial: o cheiro da festa. Muitos participantes lembravam com carinho do aroma característico da época em que a irmã Vicência organizava o evento — um cheiro que evocava memórias afetivas profundas.
A investigação levou a uma descoberta emocionante: no ado, elementos naturais como crista-de-galo, cipreste e a palha e borra de café eram utilizados na confecção dos tapetes. Aromas simples, mas marcantes, que envolviam os sentidos e reforçavam o vínculo emocional com a tradição de tantas famílias que tinham suas origens no campo.
“Fomos atrás desses elementos e os reintroduzimos. Hoje temos uma fazenda que cultiva crista-de-galo especialmente para a festa, outra que fornece cipreste, além da coleta de palha e borra de café. Assim, conseguimos resgatar esse cheiro que ficou guardado na memória afetiva de tantas pessoas”, revela Travaglia, com emoção.
Aprimoramento artístico e material
A pesquisa também avaliou a qualidade artística (75%) e do material (70%), números considerados bons, mas com margem para crescimento. Em resposta, o ICIV convidou sete artistas plásticos e um designer gráfico voluntários, esse último especializado em arte sacra, para enriquecer a estética dos tapetes. Novos materiais, mais adequados às exigências identificadas, também foram adquiridos.
“Queremos elevar a arte ao patamar da fé que ela representa. Este ano, estamos confiantes de que esse investimento será percebido e refletido nos resultados”, afirma Luciano.
Infraestrutura com foco no bem-estar
No campo operacional, a pesquisa revelou carências importantes: 20% dos visitantes não encontraram banheiros e 36% relataram dificuldades para se alimentar. Esses dados foram apresentados à prefeitura, parceira do evento, que imediatamente triplicou a quantidade de banheiros químicos. No ano seguinte, esse índice caiu para 8% — e a expectativa é que continue diminuindo.
“Graças a Deus estamos entregando uma festa que se reinventa sem perder a essência. A cada edição, a pesquisa fortalece a missão do Instituto de oferecer uma festa mais acolhedora, significativa e fiel ao propósito original.
E Luciano Travaglia conclui: ao valorizar a escuta e transformar sugestões em ações, a Festa de Corpus Christi continua sendo, para muitos, uma experiência de fé, beleza e memória — vivida com o coração, os olhos e também através do olfato”.
Fonte: Diocese de Cachoeiro