Das vezes que assisti futebol com meu pai percebi que seu alvo preferido nunca era o juiz, mesmo que seu time estivesse em desvantagem. Toda sua ira se dirigia para a figura do “comentarista”. Seu argumento principal era que na época do rádio fazia sentido ter comentaristas. Para preencher o tempo, descrever melhor o andamento dos jogos. Com a televisão, eles eram quase sempre dispensáveis. Exaltava meu pai: “Esse idiota acha que sou cego!”.
Na rádio os comentaristas faziam certo sentido, como dizia meu pai. Recordo com alegria momentos divertidos na época de Rádio Difusora AM, em transmissões esportivas narradas por Willian Lima – botafoguense – e comentadas por Ivan Artur e Sassá Maravilha, tricolores vivendo tristes dias de terceira divisão. Lima sofria para fazer das Laranjas uma limonada.
Mesmo não sendo muito ligado em futebol já flagrei algumas pérolas da lógica provenientes da boca dos comentaristas em transmissões de TV. Coisas do tipo “o time que está perdendo precisa reagir” (sério?!?!?!); ou “a bola ou muito perto” (concordo com meu pai, ele acha que somos cegos); dentre outras.
Meu pobre pai sofreria se vivo estivesse. A sua fonte de irritação no Futebol se espalhou como SARS COV II por todos os cantos e telas. Comentaristas de Carnaval, comentaristas de Big Brother, enfim, qualquer coisa pode ser a chance de convidar alguém para comentar, sendo necessário ou não. Ah sim, e existem os comentaristas de notícias, a meu ver, os mais perigosos de todos.
O prezado leitor deve a essa altura imaginar que eu tenho real ojeriza por todos os comentaristas, a exceção dos queridos tricolores Ivan e Sassá. Não exatamente.
Também nunca fui muito atento em fórmula 1. Mas me recordo de assistir algumas corridas. E confesso que entenderia muito menos do que entendia, não fossem os precisos, detalhados e didáticos comentários de Reginaldo Leme.
A grande questão, meu prezado leitor, não é exatamente a figura em si do comentarista. Mas sim se comentários são necessários. E por fim, se são, se quem comenta sabe o que diz. Porque nos tempos atuais, quando falar ficou tão fácil, ouvir tem se tornado um desafio.
E meus ouvidos, confesso, andam cansados.
