*Pe. José Carlos Ferreira da Silva
Antes de tudo, o coração.
Não é força de expressão — é literal. O primeiro órgão humano a se formar, logo após a fecundação, é o coração. Nem olhos, nem dedos, nem mesmo um nome. Antes que o mundo saiba de sua existência, o ser humano começa a pulsar. Lá pela terceira semana, ainda do tamanho de um ponto final perdido num parágrafo, já há algo dentro dele que quer bater. E bate.
É curioso pensar que, entre tantas possibilidades de começo, o corpo escolheu o coração. Um músculo teimoso, que pulsa antes mesmo de existir razão. Uma bomba de sangue improvisada, funcionando ainda antes de ter forma.
Na quarta semana, quando muitos ainda discutem se aquilo é vida ou apenas possibilidade, o coração já tomou sua decisão: viver. Mesmo imperfeito, já trabalha. Movimenta-se. Bombeia. Sustenta.
Talvez por isso a gente se guie tanto por ele, mesmo quando a cabeça diz o contrário. Talvez por isso, ao falar de coragem, falemos do coração. Não é à toa que dizemos “de coração aberto”, “partiu meu coração”, “escute seu coração”. Desde o início, ele é quem toma a dianteira. Como quem diz: “deixa comigo, eu cuido disso até o resto ficar pronto.”
E é bonito lembrar que junho, esse mês de fogueiras, santos e promessas, é também o mês do Sagrado Coração de Jesus. Um coração que, do começo ao fim, bateu por amor a nós. Que continua batendo — não em carne e osso, mas em cada gesto de quem acolhe sua palavra. Ele vive nas mãos que ajudam sem pedir nada em troca, no abraço que conforta sem dizer uma palavra, no perdão que insiste, mesmo ferido. Bate forte em cada ato de bondade silenciosa, em cada escolha que renuncia ao ego para cuidar do outro.
No começo de tudo, o coração. No fim de tudo, o amor. E no meio, nós — tentando aprender a viver como quem ouve esse coração que nunca parou de bater.
