*por Dom Luiz Fernando Lisboa[1]
Ecoam em nossos corações as palavras do Papa Leão XIV, dirigidas aos peregrinos do Jubileu dos Movimentos, neste último sábado: “A autêntica espiritualidade implica o compromisso com o desenvolvimento humano integral, atualizando entre nós a palavra de Jesus. Onde isso acontece, há alegria. Alegria e esperança.”
Esta afirmação do Santo Padre não é apenas um conselho espiritual. É um chamado claro à coerência evangélica. Ele nos recorda que a verdadeira fé cristã não se limita a uma experiência interior ou a práticas devocionais isoladas, mas exige que nos comprometamos concretamente com a vida, com a dignidade do ser humano, com o bem de todos, especialmente dos mais pobres e esquecidos.
Jesus não veio fundar um clube espiritual, mas inaugurar o Reino de Deus entre nós — um Reino de justiça, de paz, de fraternidade e de vida plena. Por isso, a espiritualidade cristã não pode ser alienante, nem intimista, nem indiferente às dores do mundo. Pelo contrário, ela se enraíza no Evangelho que levanta o caído, sacia o faminto, cura o ferido, liberta o oprimido.
Quando falamos em desenvolvimento humano integral, falamos de tudo aquilo que promove a pessoa por inteiro: corpo e alma, educação, saúde, cultura, trabalho digno, cuidado com o meio ambiente, inclusão social, respeito pelos direitos humanos. Não há espiritualidade cristã autêntica onde não se luta pela vida dos outros. Onde isso acontece, há alegria e esperança.
A promessa do Papa é certeira: onde essa espiritualidade encarnada é vivida, ali há alegria. Não uma alegria superficial, mas a alegria que brota do Evangelho. E junto com a alegria, a esperança. Não a esperança ingênua de que tudo vai se resolver sozinho, mas a esperança cristã que trabalha, que se organiza, que transforma, que caminha com os outros.
É assim que a Palavra de Jesus se atualiza entre nós. Não apenas proclamada nos templos, mas encarnada nas ruas, nas casas, nas escolas, nos hospitais, nos centros de reabilitação, nos campos e nas favelas. Quando a Igreja vive isso, ela não perde relevância. Pelo contrário, ela brilha com a luz de Cristo.
Na nossa diocese, temos muitos sinais de que essa espiritualidade comprometida está viva: pastorais sociais, voluntários que se doam, jovens em missão, paróquias que acolhem os mais vulneráveis, projetos que promovem dignidade. Mas ainda há muito a fazer. Ainda há muita exclusão, muito individualismo, muita desigualdade. Não podemos nos acomodar.
Por isso, mais uma vez, exorto cada comunidade, cada movimento, cada cristão: vivamos uma espiritualidade que se compromete com o desenvolvimento humano integral. Que a oração nos leve à ação. Que a liturgia nos conduza à missão. Que a fé nos empurre para a solidariedade.
A espiritualidade cristã não nos tira do mundo — ela nos envia ao mundo, para torná-lo mais humano, mais justo, mais parecido com o Reino que Jesus anunciou. E quando fizermos isso, saberemos que o Papa tinha razão: ali, haverá alegria. E haverá esperança.
[1] Bispo Diocesana da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, ES.
