Por Guilherme Nascimento
Em tempos em que a estética “instagramável” e o apelo visual ganham cada vez mais espaço no setor gastronômico, a inauguração do restaurante Bunnies em Marataízes chama atenção já à primeira vista. Localizado na movimentada Avenida Rubens Rangel, o empreendimento aposta alto: decoração moderna, identidade visual marcante com um coelho trajado de chef (em alusão ao nome “Bunnies”), cardápio variado e ampla presença física pela cidade por meio de outdoors. O investimento em comunicação visual é notável, e a proposta tem, sem dúvida, grande potencial.
Minha primeira visita ao restaurante teve um bom início com a entrada intitulada Croquete de Costela Bovina. Bem executado: crocante por fora, macio por dentro, com tempero na medida. Um acerto técnico e saboroso, que deixou boas expectativas para os pratos seguintes. A pizza portuguesa, degustada em uma segunda visita, também surpreendeu positivamente. Percebe-se o cuidado com a montagem, o tempo exato de assadura e a espessura correta da massa. Ingredientes frescos e bem distribuídos. Um ponto alto da experiência.
No entanto, nem tudo acompanhou esse padrão. A salada fresca oferecida no cardápio decepcionou. Com poucos ingredientes e sem contraste de sabores, faltou criatividade, acidez, cor, picância e até um toque de identidade regional — onde estava, por exemplo, o nosso abacaxi de Marataízes? A ausência de camadas de sabor fez da salada algo esquecível. Uma salada precisa narrar uma história na língua. Precisa provocar, refrescar e representar.

O maior tropeço, porém, foi com o prato principal da noite: o Camarão do Bunnies. Um prato que, pela natureza de seu ingrediente principal — o camarão, fruto do mar delicado e nobre —, deveria exalar frescor e protagonismo. No entanto, o que chegou à mesa foi um prato visualmente carregado, com arroz mergulhado em oleosidade, excesso de queijo e pouca harmonia. O sabor parecia mais o de um risoto pesado e desequilibrado, onde o camarão foi ofuscado pela gordura e pelo exagero. Não bastasse isso, a experiência geral com o tempo de espera também foi frustrante.
Após cerca de 50 minutos aguardando os pedidos, questionamos o garçom sobre a previsão de chegada. A resposta, pouco atenciosa, foi que “a casa estava cheia”. Em nenhum momento ele se propôs a consultar a cozinha ou retornar com uma estimativa concreta. É importante lembrar que a quantidade de mesas em um restaurante deveria ser proporcional à capacidade real de atendimento. Estamos em uma invernada — ou seja, um período de menor movimento — em uma cidade litorânea que recebe grande fluxo turístico no verão. Fica o questionamento: se a operação se mostra desorganizada agora, como será na alta temporada?
Outro ponto que merece atenção foi a gestão da informação sobre os drinks. Pedimos uma caipirinha e um mojito. A caipirinha chegou após cerca de 20 minutos e estava excelente: sabor equilibrado, refrescante e com preço justo (R$ 15). Já o mojito virou uma pequena novela. Após longo tempo sem retorno, fomos avisados de que “não tinha hortelã”. Aceitamos a ausência. Mas, 15 minutos depois, o mojito foi entregue, com a justificativa de que haviam encontrado a hortelã. Esse vaivém revelou uma clara falha de comunicação entre cozinha e atendimento. Para completar, o drink não compensou a espera: sem frescor, sem equilíbrio, sem identidade.
Experimentamos também a soda italiana de maçã verde, que se mostrou excessivamente doce, sem acidez ou leveza que a proposta sugere. E, para grupos maiores ou famílias, outro detalhe incômodo: o cardápio não oferece refrigerantes em tamanho grande. Apenas latas ou garrafas de 600ml — o que, além de forçar o consumo individualizado, revela uma escolha comercial pouco acolhedora. Restaurantes que pensam coletivamente oferecem opções que respeitam a partilha.
Durante a noite, algumas observações foram readas à simpática garçonete Daniela, que demonstrou escuta e cordialidade. Contudo, nem a gerência nem o chef de cozinha vieram até a mesa para dialogar. Isso foi sentido. A escuta ativa e a presença da liderança da casa, especialmente diante de apontamentos feitos com respeito, fazem parte do cuidado com o cliente e da escuta que todo novo empreendimento deve priorizar. É justamente por respeito que escrevo este texto — com tempo, atenção e responsabilidade crítica.
Sobre o nome “Bunnies” — que remete a coelhos, e cujo símbolo é um simpático coelho-chef —, cabe aqui uma pequena reflexão. Que o restaurante se inspire nas qualidades simbólicas desse animal: agilidade, leveza, energia e simpatia. Que a mesma dedicação estética voltada ao espaço físico, ao marketing e à identidade visual se estenda também aos bastidores da cozinha, ao treinamento da equipe e à consistência do cardápio. Que o Bunnies corra, sim, como coelho — mas na direção da eficiência e da excelência.
Por fim, desejo sinceramente que o Bunnies encontre seu ponto de equilíbrio e conquiste seu espaço definitivo no cenário gastronômico de Marataízes. Quando um novo restaurante prospera, toda a cidade colhe os frutos: a economia gira, o turismo se fortalece, os sabores locais ganham nova visibilidade. A cultura gastronômica é parte essencial da identidade de um território — e torcemos para que o Bunnies contribua com autenticidade, qualidade e constância nessa construção. Esta crítica não é um ponto final, mas uma vírgula otimista. Pretendo voltar, com expectativa renovada e apetite por novas experiências. Sucesso à equipe!
