Por Guilherme Nascimento
Existe uma cultura que precisamos fortalecer: a cultura do cuidado.
Cuidar do que é de todos. Preservar o que nos pertence coletivamente. Os espaços públicos — praças, calçadas, arelas, praias — são mais que estruturas físicas: são símbolos da cidade. E cabe a cada um de nós a pergunta: como andam os símbolos da nossa cidade?
Estão limpos? Iluminados? Seguros? Estão vivos com atividades, com gente? Quando há um problema — um vazamento, uma rachadura, um risco —, ele é resolvido ou ignorado?
Hoje trago uma imagem real, um flagrante que captei na Praia da Areia Preta, em Marataízes. Um bueiro esburra esgoto no mar, em frente à arela que, dizem, é o “cartão-postal” da região. Em cima de pedras e rochas, ao lado de casarões milionários, ali onde algumas das famílias mais ricas da cidade residem. Mas o cenário é outro: parte da arela caiu no mar. Seu beiral de proteção está comprometido. Atrás da estrutura, o abandono virou rotina: consumo de drogas, pequenos furtos, e uma estigmatização crescente da área como “praia dos farofeiros” — como se ali houvesse menos valor, menos direito.
Veja o contraste:
Casarões imponentes de um lado.
Escoamento de esgoto, abandono e exclusão do outro.
Tudo no mesmo cenário.
Essa não é apenas uma questão de urbanismo. É uma questão de justiça social, de dignidade, de responsabilidade compartilhada.
Qual é a responsabilidade do poder público?
E das elites que vivem de frente pro mar?
E dos vereadores, do prefeito, das secretarias?
E do cidadão comum? Do trabalhador? De todos nós?
A cultura do cuidado precisa nascer de um pacto coletivo.
Porque onde falta cuidado, sobra desigualdade.
E onde sobra desigualdade, a cidade perde a sua alma.
